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Mais de 550 horas de formação, 79 municípios visitados de norte a sul e 20 mil quilómetros percorridos. Porque o amanhã importa, os números de 10 anos da Academia do Centro de Frutologia Compal (CFC) traduzem bem a vontade, desde a primeira hora, de promover a fruta e a agricultura portuguesa, o empreendedorismo, a inovação e a sustentabilidade. Nasceu como “uma plataforma de promoção e defesa dos interesses da fruticultura portuguesa, trazendo competências que nós não tínhamos enquanto companhia”, nas palavras de José Jordão, Presidente do Centro de Frutologia Compal, e é hoje, mais do que nunca, “uma comunidade, algo de dinâmico e vivo, que vai crescendo”.

Em 10 anos da Academia CFC, que nem a pandemia de Covid-19 afastou dos campos e pomares, passaram pelas formações anuais 131 empresários agrícolas, produtores de dezenas de espécies e de variedades de fruta. Destes, 32 foram selecionados com bolsas de 20 mil euros do CFC para os seus projetos, num total que ultrapassa os 640 mil euros. E se a Academia deu muitos frutos, nos hectares e hectares de produção agrícola, muitas vezes voltada para espécies locais ou regionais, algumas quase esquecidas, também deu sumos. Já houve duas edições especiais limitadas de néctares Compal feitas com recurso a fruta dos alumni.

Academia CFC: uma imensa rede de apoio
Foi em 2011, “aquilo que eu costumo designar como ano horribilis”, lembra José Jordão, que surgiu a ideia do Centro de Frutologia Compal e da Academia. Numa altura em que a crise entrava pelas casas de muitos portugueses, a Compal decidiu voltar-se ainda mais para o que está na base do seu negócio, a fruta, particularmente a fruta nacional. Conhecê-la melhor, promover a sua inovação, incentivar as melhores práticas e até ajudar a que produtores de diferentes regiões e variedades pudessem aprender técnicas diferentes e adaptá-las à sua atividade.

Os anos da troika acabaram por lançar algumas das sementes que germinaram depois nas várias edições da Academia do CFC, pois impulsionaram em muitas pessoas o empreendedorismo. Esse apelo da terra, essa vontade de regressar às origens ou de mudar de vida, tornou a surgir na pandemia. E os frutos, esses voltam a estar à vista nos pomares do Douro ao Algarve, do oeste às Beiras.

Para o sucesso deste projeto da Compal contribuem também as visitas a propriedades e as sessões práticas, que compõem 70% do programa da Academia do CFC. E para isso contribui também a rede de mais de 200 parceiros de diferentes áreas e setores, sempre relevantes, desde universidades e centros de investigação a empresas e associações de agricultores. José Jordão destaca que, nestes 10 anos, “há uma curva de aprendizagem extraordinária, com imensas coisas que fizemos”.

Sustentabilidade para as próximas décadas
As formações da Academia sempre estiveram atentas à tecnologia e à inovação, procurando dar resposta a muitas das dificuldades dos agricultores. Se para a maioria das pessoas as alterações climáticas são uma preocupação com o futuro, para quem cuida de pomares, a temperatura, as pragas e a boa utilização da água fazem parte do dia a dia da atividade, sete dias por semana. “Foi muito gratificante verificar que muitos dos formandos têm hoje uma consciência de sustentabilidade que eu me parecia completamente invulgar”, refere José Jordão sobre os últimos anos, “gente que está a pensar em fruticultura de sustentabilidade, que é um exercício ele próprio de coragem”.

Para o Presidente do CFC, os resultados deste projeto e da Academia estão à vista de todos. E mesmo que não o saibam diretamente, os próprios consumidores, portugueses e internacionais, estão a saborear essas conquistas pessoais e agrícolas. Quando compram e comem maçãs, figos, laranjas, cerejas, mirtilos, marmelos e muitos outros frutos que podiam não existir sem o apoio, a formação e o networking conseguidos na Academia do Centro de Frutologia Compal. “Eu desejo que a plataforma do Centro de Frutologia, esta ideia que agrega tantas vontades e tantas competências multidisciplinares, não só viva mais 10 anos, mas viva mais 20, 30 e 40 anos”, conclui José Jordão.

Os três vencedores da edição de 2023

Mónica Alves, cerejas, Resende
Deixou Lisboa para produzir mirtilos em Resende, para renovar alguns terrenos abandonados ou mal aproveitados. A participação na Academia do CFC surgiu da ideia de pegar em pomares antigos de cereja, fruto muito tradicional em Resende e bastante valorizado em todo o país, mas apostar em “variedades mais interessantes produtivamente”. Ao mesmo tempo, queria aproveitar infraestruturas e maquinaria que, graças à cereja, podem continuar a ser usadas fora da época do mirtilo.

Mónica Alves acredita que é essencial haver na agricultura “esta troca de experiências”, porque muitas vezes os produtores estão fechados no seu setor ou na sua região. O seu novo projeto para as cerejas é resultado disso mesmo: “Ao participar na Academia, eu reformulei completamente o meu sistema, o meu processo de produção e de comercialização”. A bolsa do CFC vai integralmente para a continuação desse investimento, nomeadamente para garantir a recolha de água para os pomares.

João Almeida, pêssegos, Covilhã
“Nasci no meio dos pêssegos, sempre trabalhámos pêssego e à medida que vamos passando, vamos profissionalizando mais na arte de produzir pêssegos, vamos tendo melhor capacidade de resposta às alterações climáticas, às variedades, às novas pragas, às novas doenças, vamos tendo um aprofundamento mais da cultura”. Filho e neto de fruticultores, João Almeida tem néctar de pêssego a correr-lhe nas veias e acredita que a Cova da Beira pode continuar a ser um dos grandes centros de produção de fruta de Portugal.

Inscreveu-se na Academia do CFC por curiosidade e já estava a preparar o seu projeto quando os incêndios de 2022 lhe destruíram parte dos pomares. Nada que pare este jovem agricultor, que imediatamente pôs mãos à obra para preparar a terra e começar a replantar tudo. “O Centro de Frutologia Compal foi uma das coisas que me fez criar expetativa de recomeçar uma nova etapa na minha exploração”, afirma João Almeida, que apenas se sente bem entre as árvores: “Eu posso não ter grande jeito para as palavras, o que eu me dedico é a produzir fruta. Dos melhores pêssegos que existem a nível nacional!

Michelle Rosa, figos, Torres Novas
Nasceu no Canadá, estudou Ciências do Desporto e andou muito tempo afastada da agricultura, mas o bichinho estava lá, já vinha do pai que sempre quis voltar, e dos avós que viviam do campo. “Em 2012 regressei e agarrei a agricultura no seu todo, dediquei-me a 100%”. O resultado dessa entrega foi a aposta no figo preto de Torres Novas, uma variedade local, que podia trazer mais valias à região e ao negócio em si. São já 9 os produtores regionais que se juntaram na GoFigo para desenvolver “um figo que é único no mundo, só existe na nossa zona”.

A inscrição na Academia CFC aconteceu na altura mais complicada do ano, na colheita, mas o projeto de Michelle entrou, e acabou mesmo por dar acesso à bolsa. Das formações, destaca “todo o know how entre os colegas e o conhecimento que foi transmitido através das várias entidades, e o que fomos visitar e os problemas que uns e outros têm, que acabam por ser os problemas de todos”. Principalmente porque a agricultura pode ser uma atividade ingrata em termos de valorização: “Toda a gente se senta à mesa e toda a gente come, mas ninguém sabe de onde ela vem, como é que vem e como é que é produzida”. Em Torres Novas, porque o amanhã importa, os figos, damascos, pêssegos e ameixas vão continuar a ser produzidos por Michelle Rosa sempre com a mesma dedicação e carinho.

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